Buscar a perfeição a qualquer custo, em tudo o que se faz... Não se permitir pequenos deslizes, esquecimentos e, muito menos, qualquer erro. Se tudo isso lhe soou familiar e é assim que você se cobra, preste atenção! O que de início pode parecer uma qualidade – afinal, quem quer errar, não é? – pode se tornar um problemão e gerar consequências físicas e psicológicas ao “senhor perfeição”.
A autoexigência exagerada causa tamanha aflição que acaba por provocar o efeito contrário: ao invés de superação, o perfeccionista paralisa por medo de falhar e não corresponder às suas próprias expectativas. No geral, essas pessoas possuem uma noção irreal do que significa um desempenho admissível, e por isso passam a vida insatisfeitas, já que não conseguem cumprir os seus rígidos padrões de excelência.
Não se trata de estimular alguém a cumprir suas tarefas e obrigações com desleixo ou pouco caso; devemos, sim, nos esforçar, dar o nosso melhor e tentar superar sempre, mas, antes de tudo, devemos saber que todos são passíveis de falha. Sempre acontecerão erros, e é frustrante acreditar no contrário.
Uma busca frustrante
A origem desse problema ainda é incerta, mas a genética e o ambiente onde somos criados são as causas mais prováveis. Sim, é possível nascer com uma predisposição ao perfeccionismo, mas pais muito exigentes e que depositam nos filhos expectativas exageradas são o gatilho ideal para desenvolver no indivíduo a busca pela perfeição total. E isso não é tão incomum, todos nós conhecemos casos de pais que projetam nas crianças sonhos que eles próprios não conseguiram realizar.
Não basta tirar notas boas, é preciso ser o melhor da turma, a mais bonita, o mais estudioso, a número 1 na natação, no balé, enfim, os casos são intermináveis. E quando a meta (dos pais) não é atingida começam as cobranças, as palavras duras, os castigos e punições, e pior: chantagens emocionais do tipo “fazemos tudo para você ser o melhor e você não nos corresponde”. Esse comportamento é capaz de causar grandes estragos na vida da criança ou do adolescente. A tendência é que com o passar do tempo essas pessoas apresentem dificuldade de adaptação, sejam pouco flexíveis e fujam de desafios, com pânico de fracassar.
O que fazer? Aprenda a respeitar os limites dos seus filhos e as escolhas individuais da criança; você já pensou que talvez o seu filho não seja o melhor no judô porque ele simplesmente não gosta? Ou que tirar 8 não é nenhuma tragédia, e que ninguém, repetindo: ninguém é capaz de ser nota 10 em todas as disciplinas? Já os pais que percebem esse traço na criança precisam ajudá-la; demonstrar amor diante do erro é uma atitude importante, dizer que ela não precisa ser a melhor em tudo o que faz, explicar que pessoas erram, falham, mas podem consertar sempre.
Evidente que ninguém vai desestimular a criança a estudar e se esforçar, mas é preciso deixar claro que erros são parte da vida de todos nós, e ela não será menos amada ou menos aceita por isso. Procurar ajuda profissional também é essencial, e quanto antes isso acontecer, melhor.
Prejuízos pessoais e profissionais
É claro que empresas buscam, cada dia mais, profissionais de excelência, bem preparados, com boa formação, de atitude e criativos. Mas ninguém nunca viu alguma empresa, no momento da contratação, dizer que busca um profissional perfeito. E sabe por quê? Simplesmente porque pessoas perfeitas não existem.
Esse altíssimo nível de exigência atrapalha a carreira do perfeccionista, pois como ele cria metas inatingíveis, a sensação de derrota é constante. A frustração é tão grande que o indivíduo perde o referencial. Ele é capaz de esquecer-se de tudo o que já conseguiu e focar só no erro. Pode ser um projeto que não foi aprovado, o prazo que não foi cumprido, não importa a situação, o erro é sempre supervalorizado. Essas pessoas ainda tendem a projetar suas altas expectativas no outro, e são superexigentes com colegas de trabalho e familiares.
A situação ainda piora quando o perfeccionista em questão é o chefe ou o líder. Ninguém nunca é capaz de corresponder às expectativas desse chefe, nenhum funcionário é bom o bastante ou se esforça o suficiente. Essa situação é desgastante para todos os envolvidos. O chefe tende a acumular tarefas para si mesmo e assim se cobra mais ainda, ou seja, entra em um círculo vicioso do qual é muito difícil sair. E os funcionários trabalham sempre sob pressão, acuados e rendem menos ainda, movidos pelo medo absurdo de errar.
O mais provável é que o perfeccionista não perceba que o seu ideal é inatingível. Essa busca incessante é sempre decepcionante; trará angústia, sofrimento e insegurança, e com isso a autoestima é muito afetada. Com medo da reprovação alheia, a pessoa tende a esconder suas falhas. O receio de errar vai se misturando ao medo da rejeição. Nesse ponto começa o isolamento, a depressão, ou a pessoa se torna arrogante e mandona, cobrando de todos - filhos, cônjuges e funcionários - metas irreais. De qualquer modo, esse comportamento esconde uma autoestima que já está dilacerada.
Às vezes o perfeccionista consegue perceber que seu comportamento se tornou uma doença, mas, no geral, família e amigos são os responsáveis por convencer a pessoa a procurar ajuda. E não se iluda: essa não é uma tarefa fácil, até porque não existe consenso sobre até que ponto querer tudo perfeito é um traço de personalidade ou é patológico. Mas quando essa mania de perfeição afeta a vida pessoal e a carreira, é hora de procurar tratamento.
Fonte: Revista Total Saúde
Foto: prasempreforever.blogspot.com
Publicado por Jéssica Souto