sábado, 7 de abril de 2012

“O que foi feito com R$ 1 bilhão da prefeitura?”


Questionamento é feito pelo deputado estadual Karlos Cabral (PT), principal adversário do prefeito de Rio Verde, Juraci Martins (PSD), na sucessão municipal de outubro

Principal adversário de Juraci Martins (PSD), o deputado estadual Karlos Cabral (PT) deixou de ser apenas um crítico do modelo de gestão do prefeito de Rio Verde para exercer o papel de denunciante de supostas irregularidades na administração pública. Na entrevista concedida à Tribuna, o parlamentar faz acusações pesadas e cobrou explicações sobre o destino da arrecadação municipal. Pré-candidato a prefeito, ele afirma que uma aliança com o PMDB poderá definir a eleição em Rio Verde e um projeto em comum para o governo de Goiás. Sem se esquivar de temas espinhosos, advogou que o episódio envolvendo o deputado Rubens Otoni e Carlos Cachoeira não prejudica a imagem da sua legenda. “Estamos interessados em mostrar quem estava atrás daquela porta”, ameaça. Líder da bancada do PT na Assembleia, Karlos condena os colegas que contestaram as contas de Alcides Rodrigues mesmo tendo participado do governo anterior e vê grandes chances da greve dos professores da rede estadual ser retomada.

Tribuna – O aparente favoritismo do prefeito Juraci Martins (PSD) torna a união da base da presidente Dilma Rousseff (PT) uma condição imprescindível para uma vitória da oposição em Rio Verde?
Karlos Cabral – A união é importante porque a gente reforça os grandes temas e o pensamento político do governo do PT aqui em Rio Verde. Embora o prefeito esteja em um partido que em tese se diz aliado do governo federal, mas em muitos momentos já mostrou que não é, especialmente em Goiás, onde é mandado por Marconi Perillo, a gente entende que um alinhamento com o governo federal vai nos garantir muito mais facilidade de recursos. O Ministério da Saúde hoje é um supermercado. O próprio governo federal identifica a demanda e manda o recurso para o município. Não depende sequer de projeto. Agora, índice de popularidade não ganha eleição. Pegue, por exemplo, o caso do George Morais, que ganhou a eleição em Trindade. Tinha um ano que ele morava na cidade e derrotou um prefeito que havia aparecido na revista Exame como um dos cinco melhores prefeitos do Brasil e que tinha mais de 90% de popularidade. O que ganha eleição é pé no chão, olho no olho, proposta concreta e serviço prestado.

O suporte federal para as principais obras físicas em Rio Verde e a escassez de investimentos do governo estadual no município será o mote da oposição na campanha eleitoral?
Nosso partido e os aliados já estão fazendo um debate localizado na sociedade para colocar essa questão. Não foi à toa que em outra ocasião eu disse que o prefeito de Rio Verde se chamava Dilma Rousseff. Praticamente todas as obras estão sendo feitas com recursos federais, como a Unidade de Pronto Atendimento, as Unidades Básicas de Saúde, asfalto, esgoto, recursos para o parque ecológico, para o lago e tantos outros. Só que não podemos colocar isso como se a cidade não merecesse. É claro que merece. Ficamos muitos anos com uma deficiência de recursos federais em Rio Verde. O prefeito teve uma sorte danada. Muitos empenhos da época do ex-prefeito Paulo Roberto Cunha só foram concretizados agora. Além disso, o governo federal toca as obras sozinho, como é o caso da Educação, sem necessidade de projeto. A questão mais importante não é essa. Nesses quase quatro anos de mandato, o prefeito já arrecadou mais de R$ 1 bilhão. Se a gente analisar a própria lei orçamentária que ele enviou para a Câmara, veremos que remonta um valor de mais de R$ 27 milhões por mês. É uma conta simples. A grande pergunta é: onde estão mais de R$ 1 bilhão que ele arrecadou? Fora o restante que vai receber até o final do ano. Para quem só reformou uma praça e cobriu uma quadra, é muito pouco para tanto dinheiro. Essa é a pergunta que vamos fazer.

O deputado Heuler Cruvinel (PSD) afirmou em entrevista à Tribuna que conseguiu mais de R$ 100 milhões em recursos federais para Rio Verde. O senhor concorda com esses números?
Na hora em que ele mostrar a emenda tendo sido aplicada, posso concordar. Porque nós que entramos na legislatura agora apresentamos as emendas orçamentárias no ano passado para serem cumpridas em 2012. Então ele papagaia muito, mas, na prática, o que estamos vendo são iniciativas do próprio governo. Eles estão pegando carona no bonde de um momento virtuoso dos municípios brasileiros.

Qual será o peso de Heuler na campanha de Juraci?
Ele é o principal mentor do grupo político do prefeito. É o chefe do PSD e vai capitanear todo esse processo. Sem o Heuler, o prefeito nem teria condições de tocar uma campanha. Até porque dos primeiros aliados que o Juraci teve só resta um com ele. Os companheiros de primeira hora foram largados durante a gestão.

Faz 30 anos que o PMDB não elege um prefeito em Rio Verde. Existe uma rejeição ao partido na cidade? É um argumento válido para o PT buscar uma candidatura majoritária?
Não acredito que o PMDB tenha rejeição. Ele tem um eleitorado cativo e peso em qualquer eleição. O contexto eleitoral é que muda muito. Além disso, tem o fato do Marconi, que sempre foi muito bem votado aqui, ser adversário. O importante é que, se o PMDB compuser conosco uma aliança programática, ele será o definidor da eleição em Rio Verde.

Por que a aliança entre os dois partidos, que parece tão certa em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, não está assegurada em Rio Verde?
Eu respeitei todo o processo interno do PMDB. Fui um dos maiores puxadores da campanha do Iris em Rio Verde. Só depois do PMDB ter trocado de direção, passado por uma provisória e eleito um novo diretório é que tivemos uma primeira conversa. Ouvi bastante a posição dos peemedebistas, coloquei as perspectivas do PT para as eleições de 2012 e iniciamos um diálogo. Acho que nesse momento, em que estamos diante do governo mais catastrófico na história de Goiás, precisamos nos fortalecer juntos ainda mais. Vamos governar Goiás juntos em 2014 e, para isso, temos de consolidar essa aliança em Rio Verde.

Como avalia a pressão exercida pelo PMDB para que o PT apóie projeto peemedebista ao governo em 2014?
É um processo natural que vem amadurecendo desde 2006. Estamos preparando um caminho mais sólido para 2014. A gente não precisa ficar o tempo todo fazendo declarações explícitas. O alinhamento dos projetos e das bancadas na Assembleia já sinaliza para uma aliança. Entendo perfeitamente o desejo do PMDB de ver essa antecipação, mas cada eleição é única. Primeiro a gente precisa vencer e convencer em 2012. Aí, em 2014, poderemos concretizar um projeto em comum.

Na sua avaliação, quais partidos estão mais temerários em relação às investigações sobre a Operação Monte Carlo?
O fato é que essa organização criminosa transitou durante muito tempo nas mais diferentes legendas. Então hoje não dá para dizer qual partido tem mais medo. Acho que quase todos estão temerários nesse momento. Tem muita gente metida nessa história.

Como a divulgação de um vídeo em que Rubens Otoni aparece conversando com Cachoeira prejudica a imagem do PT em Goiás?
Aquele episódio não representa nenhum tipo de desgaste para o PT. Foi um fato isolado na campanha do Rubens para a Prefeitura de Anápolis, em 2004. Ele sequer faz parte da investigação da Polícia Federal. Estamos tão tranquilos que apresentamos na Assembleia um pedido de abertura de CPI para investigar. O Rubens me ligou dizendo que está disposto a comparecer para contar tudo. Mais do que isso, ele está muito disposto a dizer quem o levou naquela circunstância ao escritório do Cachoeira. Foi uma armação. Nós estamos muito interessados em revelar quem estava por trás daquela porta. Vamos fazer de tudo para que o próprio Rubens esclareça quem ficou do lado de fora. Vale lembrar que, naquela ocasião, o vice do PT era do PSDB.

A bancada governista tem maioria absoluta na Assembleia. Essa vantagem numérica não acaba abafando a voz da oposição na Casa?
Em nenhum momento. A situação sobe muito poucas vezes à tribuna para discutir tecnicamente uma questão. Só sobe para defender o governo. Quem faz discussão das matérias é a oposição. Temos pautado toda a discussão política e atuado nas mais diversas frentes. Eu mesmo questionei vários projetos do governo, apontei irregularidades e recorri ao Judiciário para fazer um controle preventivo de inconstitucionalidade com mandados de segurança. Uma das provas de que nossa atuação é benéfica foi quando conseguimos reverter uma decisão equivocada do governo de aprovar uma mudança no Coíndice que retirava recursos dos municípios produtores, como é o caso de Rio Verde, para beneficiar apenas Goiânia. Apresentei uma defesa dentro do Coíndice e tivemos sucesso. O impacto disso nesses três anos de mandato é de mais de R$ 50 milhões para a Prefeitura de Rio Verde.

O sr. acredita que a greve dos professores será retomada?
Estou muito apreensivo. Sou autor da emenda que tenta devolver os direitos de titularidade que o governador tirou. Quando a greve foi suspensa, tivemos a informação da presidente do Sintego de que o governo havia se comprometido a voltar atrás no corte de pontos e devolver a titularidade. Só que depois disso o governador disse em um jornal que não tem esse compromisso. Então não sei onde isso vai parar. O que a gente consegue extrair disso é que o governo não tem o menor respeito pelos professores.

Como avalia aprovação na Assembleia do relatório do TCE que rejeitou as contas do ex-governador Alcides Rodrigues?
O que me deixa espantado é ver que aqueles que mamaram nas tetas do governo Alcides até o último dia tenham rejeitado as contas e agora agridem sistematicamente o ex-governador na tribuna. O deputado Thales Barreto, por exemplo, se absteve de votar. Se fosse sensato, teria aprovado as contas do governo que ele mesmo fez parte.

A principal dificuldade de uma candidatura do PT em Rio Verde seria o enfrentamento da máquina tanto no município quanto estadual?
Enfrentar a máquina nunca é fácil, mas o mais difícil é enfrentar uma turma que tem por convicção que eleição se ganha com dinheiro. Essa é a nossa grande dificuldade.

O sr. deverá ter apoio do empresário Júnior Friboi (PSB). Isso representará uma estrutura financeira maior para uma campanha?
Eu não sei te afirmar isso. Até porque quando estive com o Júnior nossa conversa foi sobre o processo político de Rio Verde, o PSB e a importância da aliança. Eu estou acostumado a fazer política de botina, batendo de porta em porta e conversando com as pessoas. Foi assim em todas as eleições que disputei. A questão financeira em nenhum momento me preocupa. Só temos de garantir um mínimo para ter material de campanha e uma estrutura para a televisão. A pessoa que ganha eleição com base em muito dinheiro fica amarrada, tem de fazer licitação fraudulenta e encher a prefeitura de cargo comissionado, como vemos hoje em Rio Verde. Eu desafio o prefeito de Rio Verde a abrir a folha de comissionados. Apesar de ser um direito do cidadão o acesso à informação, ele nega. É o maior absurdo da história de Rio Verde, que tem uma folha de comissionados numericamente maior do que a da Prefeitura de Goiânia. Então, estou preocupado em vencer eleição com independência e liberdade. Não quero ter compromisso com esquemas de corrupção.

O eleitor deve esperar uma campanha marcada por denúncias e ataques no rádio e na televisão?
Nunca foi meu estilo atacar pessoas. Só falo da gestão. O povo quer saber se a pessoa tem capacidade e pulso para cumprir suas propostas ou se ela é uma rainha da Inglaterra, sempre a última a saber o que acontece debaixo do seu nariz. Estou muito espantado com o silêncio da gestão a respeito da notícia de que a empresa da controladora-geral do município, Débora Chiogna, vende passagens aéreas sem licitação para a prefeitura. É um fato gravíssimo. A primeira coisa que qualquer gestor responsável faz é afastar qualquer funcionário envolvido com corrupção. O pior é que ela continua sendo controladora e a empresa dela continua vendendo para a prefeitura.

Mas os valores das passagens não estão abaixo do mínimo exigido para que seja feita licitação?
Não. Existem passagens para a primeira-dama cujos gastos são de mais de R$ 10 mil. Mesmo se fosse menos do que esse valor mínimo, na forma de atuação está caracterizado o fracionamento. Você pega um valor e fraciona em vários para justificar a compra sem licitação. Mas, independentemente disso, o fato é que uma agente pública que é responsável pela regularidade das contas é a primeira a praticar ato de corrupção. Ela vende para o próprio ente do qual ela é fiscalizadora. A controladora chegou a comprar passagem para ela mesma. A gente espera uma resposta da gestão, que é tão transparente, sobre o parecer pela rejeição das contas pelo conselho do Fundeb, que apontou atos de corrupção e pagamentos feitos por serviços que não foram realizados.

Por Fernando Machado
Fonte: Tribuna do Sudoeste
Postado por Dyego Queiroz

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