quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pintura que vai além da ponta do pincel


Grafite se espalha por todo lado: nas paredes de túnel, comércio até naqueles lugares que você nem imagina


Por: Wilker Duarte

É só andar um pouco por Rio Verde para os olhos se encantarem com a arte de rua. Mas não são aquelas pichações com palavras ofensivas, o grafite é diferente. Para os desenhos ficarem bonitos e passarem uma mensagem importante, os artistas não precisam usar molduras, eles usam apenas spray e muita criatividade.
Desenho de uma mulher negra com um olhar triste feito pelo Grafiteiro Gil, no túnel da BR-060

No Brasil a técnica chegou na década de 70. O grafite é um dos elementos do hip hop porque é uma forma de expressar toda a cultura e situação rotineira que a humanidade vive. É uma maneira também de refletir sobre a realidade em que vivem as pessoas. Tudo passado por seus desenhos de maneiras bem criativas.
Em Rio Verde, o grafite público está começando a surgir, Paulo Ricardo trabalha com o grafite há seis anos e tenta vencer as batalhas do preconceito: “O grafite ficou em um patamar igual ao das pichações. Quando me veem desenhando alguma coisa em uma área pública, logo eu percebo os olhares de lado ou comentários do tipo: está destruindo patrimônio público”, explica ele.
O projeto Contra-Turno existe em Rio Verde desde 2011 e leva para alunos do ensino fundamental e médio, atividades culturais no período em que eles não estão no colégio. Crianças e jovens aprendem com música, dança e, agora, com o grafite a se tornarem críticos e a ficarem longe das drogas: “O projeto nada mais é do que oferecer lazer e cultura aos jovens, que fora do colégio ficariam ociosos: “Precisamos eliminar o preconceito das pessoas em relação ao grafite, por isso, incluímos o grafite no projeto, porque para eliminar os preconceitos precisamos ensinar a diferença entre pichação e grafite”, explica a assessora de imprensa da Secretaria de Juventude, Marisa Coutinho.

A pichação, além de ser considerada vandalismo, é crime. Ela tem como característica principal escrever em muros, edifícios, monumentos e vias públicas. Quem for pego pichando pode ter que prestar serviços à comunidade por, até, cinco meses. Já o grafite é o retrato social que um artista quer passar para aquela sociedade. Os espaços públicos em Rio Verde foram cedidos para essas pessoas embelezarem ainda mais os muros sem graça, cinza e sem vida.
Manter o trabalho bonito aos olhos não é tarefa fácil! Existem gastos e também falta estrutura em Rio Verde para atender aos profissionais: “Meus sprays são muito caros, eu preciso comprar em outras cidades como: Goiânia, Anápolis e até Curitiba. Daí, sempre fico calculando o prazo de entrega para não ficar sem o material e sempre fico de olho nas promoções da internet”, afirma Paulo. O preço de um spray na internet custa em média R$ 12 reais e pode chegar até R$ 50 reais, tudo dependendo da marca, cor e tamanho.

Gil também trabalha com grafite e tem como principal ferramenta de trabalho a sensibilidade: “Eu desenhei um homem segurando baldes de água e chorando como uma representação de onde eu vim [nascido no nordeste]. Lá eu conheci como é a pobreza na pele”. Ele ainda conclui: “Minha família e amigos ficaram no nordeste e eu encontrei no grafite uma maneira de estar perto deles quando vejo um trabalho finalizado”.
Grafite feito pelo Gil [mostrado na reportagem] desenho de um homem em solo seco em busca de água
Ainda não há regulamentação trabalhista para quem trabalha com o grafite no Brasil. Paulo Ricardo afirma que, por ter vários problemas de regulamentação do trabalho, foi preciso criar uma associação para representar os profissionais da área: “A Associação Goiana de Hip Hop é a única que cuida de todos os profissionais ligados à cultura [incluindo o grafite], mas a sede fica em Goiânia e cuida de todo o estado. Por isso, fica difícil para nós grafiteiros do interior, porque, não temos auxílio e a atenção necessária. Uma associação para cuidar dos nossos trabalhos seria ideal porque, além da garantia dos nossos direitos, teríamos a tranquilidade de estarmos representado”, conclui.  

Rosângela da Costa passa todos os dias pelo túnel que dá acesso ao bairro Gameleira, em Rio Verde. Ela diz que nunca tinha parado para refletir sobre o grafite presente lá: “Interessante que o dia a dia da gente é tão corrido que nunca parei para fazer uma análise do desenho. Mas para mim, a pessoa que pintou quis retratar uma mulher negra muito feliz com a vida”, conclui ela.


Mulher sorrindo próximo a rotatória que dá acesso ao Bairro Gameleira no túnel da Br-060

COMENTE

 
Designed by Templateism.com