domingo, 29 de março de 2015

O pensamento de Hegel aplicado à sociedade atual

Uma sociedade que vive em uma rotina intensa de buscas por dinheiro, corpo perfeito, casa ideal e família feliz é considerada por estudiosos como a “sociedade do conhecimento”. Esse título nos foi dado graças aos avanços tecnológicos e da facilidade que temos em manter comunicação, obter informações e expressar nossas opiniões. No século XIX, bem antes de qualquer tecnologia atual existir, um filósofo alemão chamado Georg Hegel dedicou sua vida para estudar a existência humana. Hegel via a história como desenvolvimento progressivo do entendimento humano rumo ao saber perfeito. Ele revolucionou o pensamento de sua época colocando a mudança como o centro do mundo e rejeitando o conceito amplamente aceito das “verdades eternas”. Assim, segundo ele, todas essas mudanças levariam a humanidade a um patamar final do conhecimento absoluto.

Informações que antes levavam dias ou meses para serem conhecidas, hoje, estão a um clique em segundos, alcançam a “aldeia global”. Entretanto, qual a qualidade destas notícias? A rapidez é priorizada e assim é deixado para trás características importantes associadas à informação. Toda essa facilidade em obtê-la nos leva a uma ociosidade do pensamento e do conhecimento. Isso porque ferramentas virtuais, como o Google, em que colocamos palavras chaves e recebemos todo tipo de informação, fazem-nos deixar de buscar a íntegra da informação, o seu real sentido, entender realmente o que autor quis dizer, ou o que está acontecendo naquele local. A objetividade das informações repassadas geram o “emburrecimento” da sociedade e uma reprodução automática em larga escala de algo que sequer foi interpretado. 

Voltando em Hegel, uma de suas análises identificava o nada não apenas como ausência, mas como a consequência direta do ser, ambos ligados ao processo de mudança. O nada atualmente é a maneira com que o ser humano busca o conhecimento. Não há busca, apenas o livre acesso a ele. A sociedade encontra-se inerte perante seu próprio saber. A alienação social é cada vez mais reforçada na ideologia capitalista de que tudo o que se precisa é dinheiro, status e bem estar econômico, tornando-se uma sociedade que não valoriza o aprofundamento do conhecimento e não busca sempre mudar para alcançar o “conhecimento absoluto”. A existência para Hegel era definida de acordo com o grau de conhecimento e a busca pelo mesmo. O jornalismo, grande responsável por transmitir informações e também conhecimento é veículo formador de opinião em que há um tempo era a fonte segura de saber da sociedade, aceitou as mudanças, mas, visivelmente por um lado negativo.

Textos curtos, sem aprofundamento e muitas vezes apresentado de maneira errada ao leitor, são características do jornalismo contemporâneo. A era das redes sociais transformou o imediatismo no principal valor notícia dos veiculadores de informações, que em muitas vezes não são profissionais formados. A fé que Hegel tinha na sociedade era a da transformação, da mudança até que o conhecimento fosse alcançado. Muitos de seus seguidores, como Ludwig Feuerbach, Karl Marx e Friedrich Engels, mantinham essa mesma fé. 

Não podemos mais viver de informações superficiais, transmitidas por veículos que sabem tão pouco quanto falam, a necessidade da mudança, de sair do ócio ocasionado pelo avanço tecnológico tem de se fazer presente. Se para evoluirmos precisamos do “conhecimento absoluto”, não podemos nos contentar em saber de tudo e não saber nada. A qual lugar a correria e o estresse do trabalho irão nos levar? Será que dinheiro compra conhecimento? Será que ter uma família “feliz”, uma casa boa, um emprego estável e um corpo invejável irão fazer de você melhor que outra pessoa? A filosofia nos diz que não. Não há ser humano melhor que outro. Existem pessoas que buscam o conhecimento e que se evoluem, partindo assim, a não valorizarem o ter, e sim o ser. A evolução biológica de Darwin nos trouxe até aqui, a evolução espiritual de Hegel pode nos levar além. 

“A busca pela excelência não deve ser um objetivo e sim um hábito”
                                                                                               - Aristóteles

Por Vitória Sales



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