segunda-feira, 16 de maio de 2016

Primeiro “Mineirazo” – Há sete anos o Estudiantes LP conquistava a Libertadores pela quarta vez

Ao lado de Verón, o técnico Sabella, que treinou a Argentina no Mundial de 2014. Foto/Reprod: Clarín Deportes
Por Matheus Guerreiro
Texto Bárbara Gonçalves 

    Como os pinchas já descreveram: parece que foi ontem. Mas já se completam sete anos do dia em que Juan Sebastián Verón fez o majestoso gesto de levar a taça da Libertadores da América no tetracampeonato do Estudiantes de La Plata. O time argentino teve a terceira campanha mais cheia de jogos (16 ao todo) até o título, sendo a maior desde 1967. A campanha para o tetracampeonato não foi fácil. Desde o gol de Ramón Lentini, contra o Sporting Cristal na fase preliminar que deu a classificação ao Estudiantes, para a fase de grupos ao gol decisivo de Mauro Boselli sobre o Cruzeiro.
    A equipe do técnico Alejandro Sabella, que se credenciaria anos depois a ser técnico da Argentina vice-campeã Mundial em 2014 (uma das críticas a seu trabalho foi justamente o alto número de jogadores de técnica contestada com quem trabalhara no Estudiantes). O mais criticado, Marcos Rojo, foi eleito o melhor lateral da Copa 2014, provando que Sabella sabia o que estava fazendo. O Estudiantes se classificou em segundo no grupo 5, do qual o próprio Cruzeiro havia terminado na liderança e o vencido por 3-0 no Mineirão. Com três vitórias, um empate e duas derrotas na primeira fase, o time de La Plata partiu para o mata-mata vencendo todas e chegou à final.
    O clube emplacara três Libertadores nos anos 68, 69 e 70, com um estilo que ainda divide opiniões: alguns desmerecem as quatro finais seguidas na competição (as três primeiras, vencidas) e um troféu Intercontinental por serem supostamente fruto de pura violência e antijogo; quando muito, admitem somente Juan Ramón Verón, pai de Juan Sebastián Verón, como único craque. Frisamos que aquele time era mais irritantemente astuto do que necessariamente violento. O clube de La Plata já estava há 39 anos sem ver a taça e precisava sair da fila.
“Ele e seus companheiros conquistaram o que tantas vezes sonhamos. É a continuidade de um projeto (…). Imediatamente depois da final, me lembrei de Osvaldo Zubeldía, o criador de toda essa revolução. E graças a esse elenco, agora todos os torcedores do Estudiantes poderão dizer que sabem o que é ganhar uma Libertadores (…). Foi realmente emocionante, porque pudemos voltar a viver sensações que ficaram gravadas no coração há 40 anos”, declarou Carlos Bilardo, técnico da Argentina campeã de 1986 que, como jogador, estivera naquele Estudiantes vencedor dos anos 60. Zubeldía era o seu técnico ali.
Após a “era do Tri”, a equipe alvirrubra de La Plata foi a que mais sofreu com o jejum da Libertadores dentre aquelas que já venceram o torneio mais de uma vez. Apesar de títulos argentinos em 1983 (com Sabella como meia-armador do clube: confira aqui), o clube havia voltado a se portar como o time médio que era antes daqueles títulos em série, chegando até a ser rebaixado com um iniciante Verón filho em 1994. O time voltou a emergir com o retorno do já consagrado até Verón em 2006. Mas faltava faturar novamente a Libertadores, uma questão de honra principalmente para o capitão.
O Estudiantes enfrentou o Cruzeiro, comandado por Adílson Batista, no místico estádio Mineirão em busca da vitória para ser campeão da Libertadores. O estádio carregava consigo um retrospecto desfavorável para as equipes argentinas. De 35 confrontos, os argentinos só saíram vencedores em quatro oportunidades. Mesmo com os clubes argentinos mostrando superioridade de títulos na América do Sul, eles costumavam não se dar bem no Mineirão. Os pincharratas conseguiram superar isso naquela noite do dia 15 de julho de 2009.
Antes, no jogo de ida em 8 de julho, o Estudiantes contou com 52 mil torcedores no Ciudad de La Plata, na partida que terminou sem gols e com a certa satisfação de “dever cumprido” por parte da equipe brasileira. Mal poderia ela esperar pelo que iria ver uma semana depois.
Na partida de volta, era o tudo ou nada. O Cruzeiro abriu o placar no primeiro tempo, em um momento onde não criava muita coisa. Henrique, de fora da área, arriscou e marcou após desvio de Leandro Desábato, um dos zagueiros argentinos mais comentados no Brasil.  Mas Gastón La GataFernández conseguiu o empate logo na sequência, após uma bobeada da defesa cruzeirense, no qual pensava que o título já estava com eles. Fernández recebeu de Christian Cellay, bem lançado por Verón nas costas de Gérson Magrão. Foi daí que o primeiro “Mineirazo” – cinco anos antes do 7 a 1 - começou a se desenhar.
As atenções estavam voltadas para Verón, que não foi tão vistoso como seu pai. Pelo contrário. Na partida decisiva estava sendo bem marcado e apareceu pouco em vista da maioria dos companheiros. No entanto, tomou conta do meio-de-campo, sendo quem mais desarmou naquela noite. Kléber e Wellington Paulista não conseguiam receber a bola de Ramires e Marquinhos Paraná. Verón também armava: foi dos pés dele que saíram os dois gols argentinos. O segundo, em cobrança de escanteio para Maurito Boselli, ex-Boca Juniors, cabecear e virar o marcador do Mineirão para dar a vitória por 2 a 1 para os pinchas.
   Se aproximando o fim, os argentinos administravam totalmente o jogo. O goleiro Mariano Andújar mostrava ser nome forte para a seleção argentina naquela época, tomando o lugar que poderia ter sido de Juan Pablo Carrizo na Copa 2010, que contou ainda com Clemente Rodríguez e Verón, é claro – Enzo Pérez veio à de 2014 junto com o reserva Federico Fernández. Outro membro era o caudilho Rolando Schiavi, que dali a uns meses se tornaria o mais velho estreante na seleção. Rodrigo Braña, Christian Cellay, Mauro Boselli e até Leandro Desábato receberiam chances também.
    O público do time mineiro se calou. Cerca de 65 mil pessoas estavam apreensivas com o destino que o jogo tomava. Já os poucos torcedores pinchas que estavam lá faziam sua parte, gritando e alentando sem parar. La Brujita Verón praticamente segurava para não chorar. Mas depois do apito final não conseguiu se controlar, assim como os pinchas que viveram aquele momento. Choro, emoção, arrepio. Se a fórmula SA = S²+L (Sucesso do Aluno = Sangue, Suor + Lágrimas) tem eficácia com os vestibulandos, o Estudiantes soube aplicá-la muito bem para se tornar tetracampeão da América.
    Os soldados de Sabella já haviam demonstrado não se assustar com o fator Brasil em uma final: seis meses antes, haviam vencido o Internacional, no Beira-Rio, pela final da Sul-Americana 2008, mas acabaram perdendo aquele título ao levarem o empate na prorrogação. Mas há cinco anos cravavam suas cores vermelha e branca no Mineirão. E La Brujita fez história.
    Além disso, Verón também teve a missão de levantar a taça mais desejada do futebol sul-americano, tendo o prazer ainda de dar a volta olímpica ao lado de seu pai. Foi uma noite triste para os cruzeirenses, mas inesquecível para os argentinos que viram o Estudiantes LP reconquistar a América pela quarta vez.

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