Por: Renata Ferreira
Foto: Arquivo pessoal
Como é
bom chegar nessa idade, saber que mesmo passando por tantas coisas, terei
histórias para contar aos futuros da família. Engraçado lembrar das vezes que um
de meus filhos vem com a família nos finais de ano para me visitarem, são mais
de 3 mil quilômetros que percorrem para ver uma velha que fica sentada o dia
inteiro em uma cadeira de balanço.
Tudo
de bom é ficar “sentadinha” na minha cadeira a espera de meu filho, aquele que
viaja dias e noite de ônibus ou carro para me visitar. Me lembro bem da última
vez que ele e a família estiveram em minha casa, vieram de carro (2 no total),
chegaram gritando por mim e logo senti algo bom em meu coração, era meu filho querido
com toda a “tropa” chegando em casa.
Crianças
desceram do carro chorando porque estavam com fome, outros iam pegando as malas
e jogando na calçada, já meu filho veio direto ao meu encontro. Na ocasião
estava um pouco debilitada, coisas da idade, sabe como é, e não pude correr ao
encontro dele, mas graças a Deus hoje estou melhor. Como foi bom tocar o
rostinho de rugas que ele tinha e me fazia tão bem, o cheirinho do meu filhote
ao me abraçar me trazia segurança.
Durante
aqueles dias em que estive com meu filho, foi como estar em paz comigo mesma.
Ele me faz bem, me traz esperança e cuida de mim. Meu filho preparava a água
para que eu tomasse banho, minha nora fazia o meu café, que só eu conseguia
tomar, os jovenzinhos que passaram por aqui fazia uma bagunça boa que até isso
eu não me esqueço. Ficava observando eles conversarem, as gírias então, mal
entendia um pingo, mas queria eles por perto, me sentia mais jovem, mas logo me
virava para olhar a rua e voltava para a minha realidade.
Sentava
em minha cadeira de balanço e ficava o dia inteiro, só levantava quando uma boa
alma se preocupava em saber se estava precisando de algo. A casa estava cheia,
mas ao mesmo tempo me sentia só. E meu filho, que veio de tão longe para me
ver, será que ele perguntava de mim para as outras pessoas?
Por um
momento fiquei triste, a solidão bateu em meu peito, desesperada fiquei em
pensar que talvez meu filho mudara os sentimentos por mim, estando com as
pessoas mais jovens, com um pensamento mais alegre. Será que meu filho não me
visitará com frequência?
Agonia,
tristeza. Revolta por ter esses pensamentos. Olha a idade que tenho! Vejam se
isso é coisa de “velhinha” pensar?! Como dizem os jovens: Qual é “véia”? Qual é
mesmo. Mas independente disso continuei a balançar em minha cadeira, com meus
pensamentos de velha gagá, enxugando meu rosto com marcas da idade, com meu
lenço de bichinhos, sou velha, mas tenho essas coisas.
Esperaram
a virada do ano, depois partiram. E naquele amontoado de coisas na sala, a
despedida foi cruel, o sentimento era de despedida para sempre. O abraço com
meu filho durou horas, eu e ele não falamos uma palavra, somente nos abraçamos
e choramos. Os pequenininhos me davam aquele abraço inocente, mas que já tinha
um sentimento conhecido, a nora e os demais, nem se fala o quanto foi doloroso
abraçá-los.
Fecharam
a porta de casa, fiquei na janela observando a ida deles. Com o braço estendido
para fora do carro vi o último adeus de meu filho, só me restou voltar para minha
cadeira de balanço, ter uma vida de velhinha e esperar a volta de quem
realmente se preocupa comigo.