sexta-feira, 15 de abril de 2016

Coisas da idade

Por: Renata Ferreira
Foto: Arquivo pessoal


Como é bom chegar nessa idade, saber que mesmo passando por tantas coisas, terei histórias para contar aos futuros da família. Engraçado lembrar das vezes que um de meus filhos vem com a família nos finais de ano para me visitarem, são mais de 3 mil quilômetros que percorrem para ver uma velha que fica sentada o dia inteiro em uma cadeira de balanço.

Tudo de bom é ficar “sentadinha” na minha cadeira a espera de meu filho, aquele que viaja dias e noite de ônibus ou carro para me visitar. Me lembro bem da última vez que ele e a família estiveram em minha casa, vieram de carro (2 no total), chegaram gritando por mim e logo senti algo bom em meu coração, era meu filho querido com toda a “tropa” chegando em casa.

Crianças desceram do carro chorando porque estavam com fome, outros iam pegando as malas e jogando na calçada, já meu filho veio direto ao meu encontro. Na ocasião estava um pouco debilitada, coisas da idade, sabe como é, e não pude correr ao encontro dele, mas graças a Deus hoje estou melhor. Como foi bom tocar o rostinho de rugas que ele tinha e me fazia tão bem, o cheirinho do meu filhote ao me abraçar me trazia segurança.

Durante aqueles dias em que estive com meu filho, foi como estar em paz comigo mesma. Ele me faz bem, me traz esperança e cuida de mim. Meu filho preparava a água para que eu tomasse banho, minha nora fazia o meu café, que só eu conseguia tomar, os jovenzinhos que passaram por aqui fazia uma bagunça boa que até isso eu não me esqueço. Ficava observando eles conversarem, as gírias então, mal entendia um pingo, mas queria eles por perto, me sentia mais jovem, mas logo me virava para olhar a rua e voltava para a minha realidade.

Sentava em minha cadeira de balanço e ficava o dia inteiro, só levantava quando uma boa alma se preocupava em saber se estava precisando de algo. A casa estava cheia, mas ao mesmo tempo me sentia só. E meu filho, que veio de tão longe para me ver, será que ele perguntava de mim para as outras pessoas?
Por um momento fiquei triste, a solidão bateu em meu peito, desesperada fiquei em pensar que talvez meu filho mudara os sentimentos por mim, estando com as pessoas mais jovens, com um pensamento mais alegre. Será que meu filho não me visitará com frequência?

Agonia, tristeza. Revolta por ter esses pensamentos. Olha a idade que tenho! Vejam se isso é coisa de “velhinha” pensar?! Como dizem os jovens: Qual é “véia”? Qual é mesmo. Mas independente disso continuei a balançar em minha cadeira, com meus pensamentos de velha gagá, enxugando meu rosto com marcas da idade, com meu lenço de bichinhos, sou velha, mas tenho essas coisas.

Esperaram a virada do ano, depois partiram. E naquele amontoado de coisas na sala, a despedida foi cruel, o sentimento era de despedida para sempre. O abraço com meu filho durou horas, eu e ele não falamos uma palavra, somente nos abraçamos e choramos. Os pequenininhos me davam aquele abraço inocente, mas que já tinha um sentimento conhecido, a nora e os demais, nem se fala o quanto foi doloroso abraçá-los.


Fecharam a porta de casa, fiquei na janela observando a ida deles. Com o braço estendido para fora do carro vi o último adeus de meu filho, só me restou voltar para minha cadeira de balanço, ter uma vida de velhinha e esperar a volta de quem realmente se preocupa comigo.



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