A maioria das
pessoas conhece ou já ouviu falar do termo “indústria cultural”. Trata-se de um
conceito criado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969)
e Max Horkheimer (1895-1973) que designam, em linhas gerais, a produção
cultural nos tempos do capitalismo. Produção cultural por que tais produtos da
cultura de massa não são considerados verdadeiramente artísticos ou produzidos para
esses fins.
De acordo com
o professor João Francisco P. Cabral, em artigo para o site Brasil Escola, a
cultura de massa não é considerada arte por que não representa classes sociais,
mas sim o mercado. Deste modo, a cultura de massa consegue ser unificadora das
maiores classes sociais, se tornando a única forma de difusão cultural.
Com essa
junção e padronização formada pela Indústria Cultural, todos passam a pensar da
mesma forma, principalmente aqueles que só têm a “grande mídia” como formadora
de opinião. Torna-se impossível sair do sistema ou, como costumam dizer, pensar
fora da caixa, e consequentemente os indivíduos perdem a noção de sujeitos
conscientes e independentes que são, passando a reproduzir uma ideia previamente
produzida para ser aceita como cultura individual, mas difundida de maneira
coletiva.
Inclusive, uma
das principais formas da indústria cultural divulgar a cultura de massa,
ironicamente, é através da busca pela individualidade. O ser humano busca desde
os primórdios serem únicos, diferentes dos outros animais, por tanto a
indústria cultural se baseia nessa necessidade e vendem uma falsa ideia de personificação
do seu público, afirmam que “quanto mais você se informar, mais intelecto do
que os outros você será”, sendo que, obviamente, não importa a quantidade de
informação, e sim a qualidade dessa informação.
Porém, a Indústria
Cultural consegue produzir informação o tempo inteiro, de modo que atinja a
demanda que eles mesmos fizeram a sociedade criar e assim tornando-se o
principal meio de absorção de cultura. Aí, fica fácil repetir diversas vezes e
das mais variadas formas um único ideal, de modo que isso entre na mente dos
indivíduos como verdade absoluta, pois, ao mesmo tempo em que o ser humano
busca ser único, ele quer fazer parte de um grupo em que todos tenham algo e
comum: “se todo mundo pensa assim, é por que é o certo”.
É aí que a
indústria cultural começa a produzir a sociedade perfeita, com programas,
filmes, músicas, textos e demais produções que, de acordo com os princípios
editoriais, honram pela família, pela tolerância, pelo respeito, mas que ao
mesmo tempo mostram a “realidade”, na maioria das vezes tornando a sociedade
exibida na tela, no som e nos papeis uma caricatura mostrando o que há de pior
entre nós.
A TV ainda é o
principal meio da indústria cultural, as novelas, paixão nacional,
principalmente por isso, são a base desta análise rápida: casais homossexuais são
várias vezes retratados com promiscuidade, desejo reprimido, uma vontade que
desperta e destrói lares perfeitos e heterossexuais – como a personagem de
Giovana Antonelli na novela “Em Família”, ou de José Mayer em “Império”, que
deixam seus pares heterossexuais para viver um relacionamento outrora
escondido. Se reparar, atores negros, em sua maioria, ocupam papeis de menos
destaque – é de se admirar em que um país com tanta diversidade, apenas uma das
inúmeras protagonistas Helenas de Manoel Carlos fosse negra. Sem falar na
violência, temática constante dos folhetins dramáticos. De acordo com eles, é a
arte imitando a vida – como se a vida fosse só isso.
Nem mesmo as produções
jornalísticas escapam, são apresentados temas que nada acrescentam além de peso
na consciência ou, em outros casos, debates baratos e rasos, gerando uma rápida
reflexão no melhor estilo “Maria vai com as outras” – vide a situação em que
estamos: em menos de um ano após as eleições, já existem brasileiros que querem
impeachment. Será que as escolhas não deveriam ser nas urnas? Ou será que
alguma indústria atrapalhou os indivíduos a irem a fundo sobre isso,
manipulando a realidade do país?
Todos passam a
aceitar a realidade ideal imposta pela cultura de massa como estilo de vida, a
indústria cultural julga o que é legal e o que é ilegal, ignorando toda a carga
pessoal e individual histórica e sua consciência do que é certo e do que é
errado. A indústria cultural tem os moldes do sujeito perfeito – ou não. E se
você está fora dos moldes, você é um defeito de fábrica – ou não. A Indústria
cultural não produz cultura, produz pessoas.
Por Pedro
Cabral