domingo, 29 de março de 2015

Indústria Cultural: fabricando a sociedade perfeita

A maioria das pessoas conhece ou já ouviu falar do termo “indústria cultural”. Trata-se de um conceito criado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) que designam, em linhas gerais, a produção cultural nos tempos do capitalismo. Produção cultural por que tais produtos da cultura de massa não são considerados verdadeiramente artísticos ou produzidos para esses fins.

De acordo com o professor João Francisco P. Cabral, em artigo para o site Brasil Escola, a cultura de massa não é considerada arte por que não representa classes sociais, mas sim o mercado. Deste modo, a cultura de massa consegue ser unificadora das maiores classes sociais, se tornando a única forma de difusão cultural.

Com essa junção e padronização formada pela Indústria Cultural, todos passam a pensar da mesma forma, principalmente aqueles que só têm a “grande mídia” como formadora de opinião. Torna-se impossível sair do sistema ou, como costumam dizer, pensar fora da caixa, e consequentemente os indivíduos perdem a noção de sujeitos conscientes e independentes que são, passando a reproduzir uma ideia previamente produzida para ser aceita como cultura individual, mas difundida de maneira coletiva.

Inclusive, uma das principais formas da indústria cultural divulgar a cultura de massa, ironicamente, é através da busca pela individualidade. O ser humano busca desde os primórdios serem únicos, diferentes dos outros animais, por tanto a indústria cultural se baseia nessa necessidade e vendem uma falsa ideia de personificação do seu público, afirmam que “quanto mais você se informar, mais intelecto do que os outros você será”, sendo que, obviamente, não importa a quantidade de informação, e sim a qualidade dessa informação.

Porém, a Indústria Cultural consegue produzir informação o tempo inteiro, de modo que atinja a demanda que eles mesmos fizeram a sociedade criar e assim tornando-se o principal meio de absorção de cultura. Aí, fica fácil repetir diversas vezes e das mais variadas formas um único ideal, de modo que isso entre na mente dos indivíduos como verdade absoluta, pois, ao mesmo tempo em que o ser humano busca ser único, ele quer fazer parte de um grupo em que todos tenham algo e comum: “se todo mundo pensa assim, é por que é o certo”.

É aí que a indústria cultural começa a produzir a sociedade perfeita, com programas, filmes, músicas, textos e demais produções que, de acordo com os princípios editoriais, honram pela família, pela tolerância, pelo respeito, mas que ao mesmo tempo mostram a “realidade”, na maioria das vezes tornando a sociedade exibida na tela, no som e nos papeis uma caricatura mostrando o que há de pior entre nós.

A TV ainda é o principal meio da indústria cultural, as novelas, paixão nacional, principalmente por isso, são a base desta análise rápida: casais homossexuais são várias vezes retratados com promiscuidade, desejo reprimido, uma vontade que desperta e destrói lares perfeitos e heterossexuais – como a personagem de Giovana Antonelli na novela “Em Família”, ou de José Mayer em “Império”, que deixam seus pares heterossexuais para viver um relacionamento outrora escondido. Se reparar, atores negros, em sua maioria, ocupam papeis de menos destaque – é de se admirar em que um país com tanta diversidade, apenas uma das inúmeras protagonistas Helenas de Manoel Carlos fosse negra. Sem falar na violência, temática constante dos folhetins dramáticos. De acordo com eles, é a arte imitando a vida – como se a vida fosse só isso.

Nem mesmo as produções jornalísticas escapam, são apresentados temas que nada acrescentam além de peso na consciência ou, em outros casos, debates baratos e rasos, gerando uma rápida reflexão no melhor estilo “Maria vai com as outras” – vide a situação em que estamos: em menos de um ano após as eleições, já existem brasileiros que querem impeachment. Será que as escolhas não deveriam ser nas urnas? Ou será que alguma indústria atrapalhou os indivíduos a irem a fundo sobre isso, manipulando a realidade do país?

Todos passam a aceitar a realidade ideal imposta pela cultura de massa como estilo de vida, a indústria cultural julga o que é legal e o que é ilegal, ignorando toda a carga pessoal e individual histórica e sua consciência do que é certo e do que é errado. A indústria cultural tem os moldes do sujeito perfeito – ou não. E se você está fora dos moldes, você é um defeito de fábrica – ou não. A Indústria cultural não produz cultura, produz pessoas.


Por Pedro Cabral


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